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Pedro Górgia e Sofia Nicholson recordam João Ricardo – "o artista genial e super generoso"

Emocionados, contam alguns dos momentos que viveram juntos

Pedro Górgia e Sofia Nicholson foram dois dos vários amigos, colegas e familiares que estiveram presentes na apresentação de “Dias Que (não) Contam”, o livro autobiográfico de João Ricardo.

O evento serviu para recordar o artista e as memórias que os presentes guardam dele, como foi o caso de Pedro Górgia, ligado a João há mais de 25 anos, quando começaram a trabalhar juntos no Teatro de Carnide. Já depois disso, fundaram a companhia de artes “Fábrica de Peças”, em conjunto com Susana Arrais, Miguel Barros, Carla Vasconcelos, João Pedreiro e Lavínia Moreira. Desses tempos, Pedro recorda sobretudo o génio que era João Ricardo: “Criámos uma companhia para fazer maluquices e tanto fazíamos coisas gigantescas, como um espetáculo no Pavilhão Atlântico em que púnhamos o pessoal a descer de rapel do tecto, fogo de artifício, como depois fazíamos coisas pequeninas. Tivemos um espetáculo com casinhas pequeninas que fomos nós que trabalhámos, pintámos e depois, no jardim da Amadora, fazíamos espetáculos para uma criança de cada vez, chamava-se ‘Casinhas Com História’, era tudo da cabeça dele! São coisas de génio, que ele criou, tudo a sair da cabeça dele, nós só executávamos”. Embora nos últimos anos tenham seguido caminhos profissionais que não se cruzavam tanto, Pedro guarda com carinho uma novela que fizeram juntos, em que interpretava uma personagem cómica e João Ricardo uma personagem dramática: Aquela minha personagem foi baseada no trabalho que eu via dele, inspirada no trabalho cómico dele. E ele teve a generosidade de me deixar brilhar enquanto cómico nessa novela enquanto ele assumia um papel mais dramático e ficava contente com isso. Ele era super generoso”.

Sofia Nicholson era próxima de João Ricardo e emociona-se ao recordar o amigo nas “noites intermináveis a beber chá. Um desenho que mantive na porta do meu frigorífico – o João adorava escrever nas paredes e nos azulejos…onde ele pudesse escrever, ele escrevia – um dia estávamos a tomar chá em minha casa e ele fez-me um desenho que ficou lá anos, até eu trocar de casa e de frigorífico”. Há também uma história no IKEA: “O João precisava de mobilar o quarto do Rodrigo e precisava de um roupeiro e então pediu-me para ir com ele ao IKEA, mas ele não conhecia o conceito da loja, então ficou completamente à toa lá no meio a pensar, ‘mas isto é assim? Agora tenho de ir buscar as coisas e montar tudo? Ó Sofia, trata tu disso’”. Apesar de terem saído de mãos vazias, Sofia garante que foi a melhor tarde de sempre no IKEA, “era sempre uma risada estar com ele”.

Sobre o livro, a atriz diz que é mais uma recordação de João Ricardo “das muitas recordações, que tenho do João, mas não preciso do livro para saber quais são os seus ensinamentos. O João era uma pessoa que, apesar de tudo, de todas as vicissitudes da vida, procurava sempre o lado bom das coisas e nos momentos…nos dias que não contavam, era bom ter um João Ricardo por perto, porque ele fazia com que eles passassem a contar. Para Pedro Górgia, este livro “é mais um bocadinho do João e da sua obra que temos oportunidade de conhecer, a visão dele única do mundo”, acrescentando que “ele tomou consciência de que se calhar havia uma luta que ele poderia não vencer e preparou as coisas para que o continuassem a amar. Não era preciso, porque a gente já o amava, mas ainda bem”.

João Ricardo foi, e continua a ser, uma das maiores inspirações de Pedro: “Todo o meu trabalho acaba por ser fruto das experiências que eu tive e ele foi uma inspiração muito grande para mim. Sempre o achei genial, com uma visão única, com uma interpretação completamente diferente, inesperada e a provocar surpresa e admiração constantes e tenho pena porque…é muito cedo. Com tanto ainda para dar, daquela cabeça poderia sair tanta coisa ainda. E é incrível porque foi precisamente na cabeça que também surgiu o problema, termina emocionado.

João Ricardo faleceu a 23 de novembro do ano passado, depois de um ano de luta contra um tumor maligno no cérebro. Como legado fica uma obra genial, patente nas personagens que interpretou e nas peças em que atuou, que criou, a que deu vida e onde colocou a sua vida.

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