Ricardo Ribeiro foi o centro da entrevista do ‘Alta Definição’ deste sábado, de 10 novembro. O músico falou da tentativa de suicídio na adolescência, da pior fase da sua vida, da infância dura, mas também da musicalidade que herdou e do refúgio na Filosofia.
“Passei uma fase muito má da minha vida”, começa por dizer o fadista de 37 anos. Após a morte do pai, teve um problema psicológico grave. “Quase que vi a morte à minha frente, passei imenso. Vi parte do cabelo cair, esta coisa a que me chamam depressão”, diz. Aí começou a fazer perguntas a si mesmo, a olhar para si.
“Comecei a enfrentar as minhas sombras, do meu passado, dos meus pais, da infância muito dura que tive. Mas ás vezes achamos que as pessoas que nos fazem mal por alguma razão, que é uma conspiração, porque é a pessoa é má. Não. É porque não logrou mais do que aquilo. Não sabe ser mais”, indica.
Diz que os pais foram os pais que puderam ser. “Andei algum tempo a culpabilizar os outros pelas minhas sombras, mas as sombras são minhas. Eu é que tenho que as iluminar”, diz. “O meu pai morreu quando eu não lhe falava e ainda hoje isso me magoa. Os extremos eram a minha norma”, confessa.
O pai morreu à porta de um supermercado, sofreu um enfarte. Dele, guarda poucos gestos de carinho. Com ele não resolveu tudo, com a mãe, sim. “A minha mãe tentou abortar de mim, três vezes. E quem lhe deu as injeções foi a minha tia Suzete”, a tia que o levou a muitos fados. “Ela que me ajudou a criar e que nutre um amor por mim…”, confessa.
Julga que foi por isso que nasceu com um rim, e depois desenvolveu várias hérnias. Ricardo Ribeiro foi operado de urgência, mal nasceu. “A vida era difícil, mais um filho ia desgraçar-lhe a vida, mais ainda mais”, diz sobre a mãe de quem herdou a musicalidade.”
"Eu não quero mexer nisso, não me faças mexer nisso, está bem?”, pediu a Daniel Oliveira.A fase crítica, entre 2012 e 2015, levou-o a um psiquiatra. “Não sabia ser amado, nunca soube”, explica. Então foi à procura, em vez do como, escolheu investigar o porquê de se sentir assim.
Na infância achava que ninguém gostava dele, hoje isso não lhe magoa. Entre os 12 e os 13 anos tentou matar-se. O pai colocou-o num colégio interno. Lá, conheceu o padre Manuel Alves – “extraordinário”- e ponderou seguir o sacerdócio. O padre disse-lhe “Não é aqui a tua vocação, a tua vocação é divina, mas é na música”.
O fadista emagreceu 50 quilos, recuperou o fôlego. Naqueles três trágicos anos, divorciou-se da mulher. Tem uma filha, Carolina, de 13 anos, “sempre amorosa” e que ama com todo o coração.
“Não fui vítima de nada, só de mim próprio”, diz. Daqui a muitos anos, sabe o que gostava que a filha disse sobre ele: "Um Homem".