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Ricardinho recorda infância pobre e garante: “Tu podes vir de baixo e vencer”

O melhor jogador de futsal do mundo esteve esta segunda-feira, 4 de fevereiro, n’ O Programa da Cristina e não conteve as lágrimas ao falar dos pais, do irmão que criou até aos quatro anos quando ele próprio ainda era uma criança, dos filhos e de Carolina Silva, a treinadora que lhe mudou a vida.

Aos 33 anos, Ricardinho é um dos grandes nomes do futsal mundial. Em conversa com Cristina Ferreira para o seu programa das manhãs, o desportista recordou que a paixão pela bola começou quando tinha apenas cinco anos, mas que o seu sonho era mesmo ser jogador de futebol. Algo que não conseguiu alcançar devido à sua altura, agora 1,67 metros.

“Tu és muito bom, mas és muito pequenino. Este futebol não dá para ti. Aquilo caiu-me como uma bomba. Imagina, com 13 anos… Chorei muito. E eu também sou muito sentimental. Por isso é que eu já vinha nervoso para aqui, porque tu fazes sempre muitas surpresas e isso assusta-me”, recordou algo emocionado, já depois de ter contado a Cristina Ferreira que vinha de uma família pobre e que os pais tinham perdido tudo num incêndio quando era muito pequeno e que durante algum tempo viveram da ajuda de vizinhos.

Ainda assim, o gosto pelo futebol não se desvanecia. “Não havia bola, enrolava as meias com fita-cola, papéis… tudo o que ficasse mais ou menos redondo dava para jogar”, recordou.

Estava a entrar na adolescência quando surgiu na sua vida a pessoa que viria a mudá-la: a treinadora Carolina Silva, que viu nele talento para o futsal, que ele próprio desconhecia. “O meu sonho era o futebol, não era o futsal”, assume Ricardinho, contando que estava sempre a adiar uma ida aos treinos, até que um dia Carolina não lhe deu hipótese e foi buscá-lo. Desde então, não mais parou. E ainda estava nos juniores quando a treinadora lhe garantiu que seria o futuro do futsal em Portugal e um dos melhores do mundo. Não se enganou.

“Ela não só acreditou e fez de mim um jogador de futsal, mas fez de mim um homem melhor. E é essa mensagem que tento passar nos meus livros. Não quero que as pessoas tenham pena de mim, mas que acreditem que vindo lá de baixo também podem ser alguém. Não é preciso teres condições financeiras ou viveres uma vida melhor que vais ser melhor que os outros, tu podes vir de baixo e vencer. [Na minha casa] não havia dinheiro para nada”, lembrou.

Ricardinho contou ainda um episódio que mostra que o empenho de Carolina Silva ia muito além dos treinos. Houve uma altura em que iam jogar contra uma equipa muito forte e não tinha sapatilhas e os pais não tinham dinheiro para lhe comprar, então ela levou-o a uma loja desportiva e disse-lhe que escolhesse. Ele, humilde, escolheu as mais baratas, mas ela insistiu que ele podia escolher as que realmente queria e não pelo preço. “Sou de uma família que não tem muitas condições e a Carolina sempre foi quase como uma mãe para mim”, assumiu.

E é talvez por saber o valor do dinheiro que nunca se deixou deslumbrar, nem se esqueceu de quem precisava da sua ajuda: “Quando vim para o Benfica, ganhava 1750 euros - o que para mim era uma barbaridade - e ficava só com 50 euros, porque os meus companheiros de equipa, que eram o Arnaldo e o André Lima eram do norte e iam muitas vezes ao fim de semana e eu queria ajudar com a gasolina. E a minha mãe disse-me: ‘Oh filho não me mandes o dinheiro todo, fica com algum’. E eu respondi: ‘Oh mãe, eu vivi sempre sem nada, não preciso de nada para viver agora’ (…) Vocês precisam mais do que eu. E foi assim. Tentei sempre ajudar e as meus amigos (…) Se eles eram os meus amigos sem nada, vão ser os meus únicos amigos com tudo”.

Ricardinho não conseguiu evitar as lágrimas ao ver uma mensagem de vídeo do seu irmão mais novo e contou que praticamente foi ele quem o criou até aos quatro anos para os pais poderem trabalhar. Recorda que chegava sempre atrasado às aulas porque tinha que o adormecer antes de sair para a escola. Houve um professor que duvidou e ele um dia levou o bebé e teve que lhe dar o leite a meio da aula. “Dormia comigo, mudava-lhe a fralda, fui quase o pai dele, por isso é que tenho essa ligação muito mais forte com ele (…) O mais velho foi pelo caminho que não deveria ter ido, pagou por isso, mas continua a ser o meu orgulho, é meu irmão de sangue, fez muitas asneiras, mas continuo a apoiá-lo e a dar-lhe força, mas este é um carinho especial porque fui eu que o criei até aos quatro anos e sinto-o mais como filho do que como irmão”.

E se o tema do irmão o deixou sensível, quando se falou nos filhos, Lisandro e Riana, o jogador de futsal ficou muito emocionado, sobretudo porque há dez anos que está fora de Portugal e quando vem é por pouco tempo, habitualmente 24 horas. “Vê-los a sofrer assim custa-me muito. Mas eu tento explicar-lhes que estou a tentar dar-lhes aquilo que os meus pais me queriam dar, mas não tiveram oportunidade. Então eu estou a trabalhar longe, custa-me muito, sofro muito, mas é para eles no futuro terem uma vida melhor. Quando quiserem ir para a faculdade terem essa possibilidade, para eu lhes poder dar as coisas que eles me pedem. Mais do que aquilo que eu faço e do que ganhei – que não me importa muito – espero que eles saibam que eu estou ali para lhes dar algo a eles no futuro. É isso que eu quero”, afirma.

Veja o vídeo:

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